Relatos de más condições de trabalho no SAMU motivaram o Sindicato dos Médicos do Estado de Santa Catarina (Simesc) e o Sindicato dos Médicos da Região Sul Catarinense (Simersul) a enviarem pesquisa para os médicos do Serviço e coletar mais informações sobre a rotina dos profissionais. A pesquisa aplicada entre os dias 26 de agosto e 8 de setembro teve 54% de participação (189 médicos de todas as bases estaduais).
“A alta interação dos médicos na pesquisa pode ser considerada como um grande indicativo da insatisfação. Confirmamos diversos problemas e estamos preparando um documento oficial que será enviado aos agentes que fazem parte do “sistema SAMU” como a empresa OZZ, secretaria de Estado da Saúde, dentre outros, para que possamos buscar soluções para o caso”, afirma o presidente do Simesc, Cyro Soncini.
O presidente do Simersul, Licínio Argeu Alcântara, destaca que a pesquisa dará subsídios para a busca de melhorias aos profissionais. “A pesquisa mostrou muito daquilo que já esperávamos. Manutenção das viaturas que não estão sendo realizadas preventivamente colocando em risco os profissionais e usuários, estruturas inadequadas de trabalho com pontos inclusive de questões sanitárias, e a questão salarial. Embora o pagamento seja realizado em dia, que é uma obrigação do empregador, não estão pagando as horas extras como deveriam, além do atraso nas férias e 13º salário. Agradecemos aos 189 médicos que acreditaram nos Sindicatos e se dispuseram a responder essa pesquisa que nos forneceu mais subsídios para buscarmos melhorias”, ressalta Alcântara.
Queixas trabalhistas e remuneração
Para 79,9% dos participantes da pesquisa, a remuneração está sendo paga em dia e para 11,6% o pagamento é com atraso. Os médicos também confirmaram o atraso do 13º salário de 2019 e não concessão de férias há alguns anos.
“O Simesc teve sentença favorável aos médicos ordenando o pagamento de juros e correção monetária sobre os valores dos 13º salários pagos em atraso. Não houve recurso da OZZ, e está em fase de liquidação de sentença para estipulação dos valores devidos”, informa o assessor jurídico, Ismael de Carvalho.
Sobre as férias, na ação protocolada pelo Sindicato, o juiz entendeu que por se tratar de serviço essencial é necessário que a empresa viabilize uma forma de cumprir o direito de férias. A empresa foi intimada e está no prazo para resposta. A ação busca o pagamento em dobro das férias devidas (de acordo com a legislação), bem como o gozo das mesmas.
Os médicos também se queixaram que estão há sete anos sem receber reajustes, situação que ocorre antes mesmo da OZZ assumir a administração do Serviço. Os demais profissionais do SAMU foram contemplados em períodos anteriores.
EPIs
Quase 50% dos médicos relataram receber o Equipamento de Proteção Individual (EPI) incompleto. Para 40,7% o material é adequado e 14% informaram que não há disponibilidade de EPIs.
“O equipamento de proteção de qualidade é o mínimo que o profissional deve ter. Alguns médicos além de não receberem os materiais, responderam terem acesso a produtos de baixa qualidade, que rasgam com facilidade, ou em pouca quantidade. Essa situação precisa ser analisada e revista”, declara o secretário geral do Simesc, Roman Leon Gieburowski Junior.
Ambulâncias
Questionados se as ambulâncias têm equipamentos necessários para atendimento, 58,2% dos médicos que participaram da pesquisa disseram que sim. 20,1% não, e os demais outras respostas como em parte, ou que poderia melhorar. Quanto aos medicamentos disponibilizados na ambulância, 82% disseram ser adequados e 10% não.
Para quase 80% dos médicos a quantidade de ambulâncias não é suficiente. Para 55% as condições de trafegabilidade não são boas e para 32,8% são adequadas. Os demais tiveram outras respostas, a maioria apontando falhas de manutenção – inclusive com relato de pane em plena BR 101.
A desinfeção e a limpeza das ambulâncias poderiam melhorar na opinião de muitos. Citaram inclusive de terem que realizar estas tarefas em certos momentos, especialmente à noite.
Recursos Humanos
Para 65,1% dos participantes o número de médicos é o suficiente para o atendimento da população e para 31,7% não. Sobre a quantidade de demais profissionais como enfermeiros e técnicos de enfermagem, 65,5% consideram o suficiente e 32,3% discordaram.
Bases
A maioria dos médicos respondeu não estar satisfeita com as condições das bases do SAMU. Destes, 70,4% informaram não terem condições adequadas para repouso médico e alimentação e quase 85% disseram que as condições de mobiliário são inadequadas.
“Cadeiras quebradas e não ergonômicas, colchões velhos e sujos, ambiente sem ventilação, falta de limpeza e até a presença de ratos, em algumas bases, foram alguns dos relatos dos participantes”, ressalta o secretário geral.
Físico e emocional
A pesquisa também perguntou como estavam as condições físicas e emocionais dos médicos. Apesar de alguns responderem estarem bem, muitos disseram estarem extremamente cansados e sobrecarregados, com alto nível de stress, alguns desmotivados e outros diagnosticados com síndrome de burnout.
“Cansado dos problemas financeiros e incertezas sobre o futuro do SAMU. Ainda trabalhando porque gosto de atenção pré hospitalar e considero um serviço que tem potencial de crescimento e o bem que ela faz nos casos graves para a sociedade”, comentou um dos participantes.
Educação Continuada
Apenas 7% dos médicos informaram haver investimento em educação continuada. Para 36,2% há, mas pouco. 50,6% dos médicos responderam que não há capacitação. Os demais tiveram outras respostas como apenas cursos não específicos.
A pesquisa foi enviada para os médicos de todas as regiões do SAMU: Extremo Oeste, Grande Florianópolis, Sul, Norte-Nordeste, Vale do Itajaí, Foz do Itajaí, Meio Oeste e Planalto Serrano. A maior parte dos participantes (65,1%) têm idade entre 30 e 39 e estão no SAMU entre 1 e 5 anos (41,8%), seguidos de 32,8% que trabalham no Serviço entre 6 a 10 anos.
Para ver a pesquisa na íntegra clique AQUI
Com informações da Assessoria de Imprensa do Simesc
Deize Felisberto
Assessoria de Imprensa do Simersul